quarta-feira, 3 de abril de 2013

Dequitação placentária: que bicho é esse?!

Queridas blogueiras:bom dia!!
 
Hoje, após tanto tempo, vou esclarecer algumas dúvidas da nossa querida Deborah, que está grávida, e tem dúvida quanto a famosa placenta.
 
Placenta, basicamente, é classificada como um órgão que é responsável pelas trocas entre mamãe e bebê, então, nutrição e trocas gasosas são garantidas por ela. Ela possue duas faces (dois lados):
Face fetal (aonde liga-se o cordão ao bebê)
 
Face materna (ligada ao endométrio- camada mucosa do útero)
 
A dúvida primordial da Deborah é quanto a saída ou retirada da placenta, pois por meio das experiências de uma amiga, unindo à um programa de TV, verificou dois casos de dificuldade nessa saída, e tem medo que isso possa acontecer com ela, então, vamos procurar esclarecer!
 
A retirada ou saída da placente corresponde ao 3º período do parto, que conhecemos também como dequitação placentária ou ainda secundamento. Nesse período a placenta deve descolar, descer e ser expulsa, para isso contamos com a ação da ocitocina na promoção da contração uterina, que faz com que esse útero contrai e relaxe promovendo o deslocamento e a expulsão (cabe salientar que as mulheres sentem essa contração, mas dizem que não são tão intensas quanto as contrações no processo da dilatação uterina, até porque são constantes para colaborar na involução uterina). A saída do feto causa a descompressão uterina (ou seja, a involução uterina colabora no descolamento placentário), assim como a descida é favorecida pela gravidade, mulheres com parto na posição litotomica (ou deitada) quem auxilia nessa descida é o profissional ao tracionar o cordão umbilical.
 
A dequitação deve ocorrer em 30 minutos, segundo a literatura, acima disso poderíamos suspeitar de risco para acretismo ou percretismo placentário. Atualmente, alguns profissionais, tendem a esperar um pouco mais antes da suspeita, e para colaborar no descolamento, coloca-se o recém-nascido para mamar, fato que libera ocitocina, e ajudaria na contração do útero (como falado anteriormente) e na dequitação.
 
Nossa Nayara, o que é acretismo e percretismo?!
 
Acretismo placentário ocorre quando a placenta invade a uma porção ou a camada muscular do útero conhecida como miométrio. Tem uma incidência na população de 1:540 à 1:93000, o número podem aumentar e virar fator de risco em mulheres com cesárea anterior, endometriose, retirada de miomas, operações uterinas, curetagens; vale um adendo que fator de risco não é determinante desta patologia, apenas merece uma atenção maior, certo!!
 
Percretismo placentário ocorre quando a placenta invade a camada serosa (camada que recobre o útero) podendo atingir outros órgãos, esses casos são mais raros de ocorrer que o acrestimo.
 
Nos casos vivenciados pela Deborah, as mulheres poderiam até ter um acretismo ou percretismo, entretanto, como a placenta dequitou, esse não é o caso, pois nessas situações a conduta primordial, mesmo após um parto vaginal, é uma cirúrgia uterina de emergência, caso contrário a placenta ficaria retida e a mulher teria hemorragia, seguida de choque hipovolêmico causado pela perda sanguínea.
 
Atualmente, além do uso da ocitocina de maneira rotineira, usamos algumas manobras para "agilizar" a dequitação, a fim de que a puérpera deixe de sangrar mais rapidamente. Entretanto, nem sempre essas manobras são benéficas.
 
A tração controlada do cordão junto a pressão supra-púbica ajuda a promover esse descolamento, entretanto, se feita com muita força pode ocorrer de romper o cordão, e para auxiliar no descolamento, após esse ocorrido, alguns profissionais realizam a curagem, ou seja, por meio de um "exame de toque" realizam o desprendimento manual dessa placenta, o que tende a gerar um pouco mais de desconforto na mulher. Alguns profissionais realizam a curagem se suspeitam, após análise da placenta, que algum resto placentário permaneceu dentro do útero da mulher, a fim de evitar uma infecção puerperal.
 
Algumas pesquisas alegam que o uso irrestrito de ocitocina poderia colaborar com um fator inverso, ao invés de auxiliar para o desprendimento placentário, poderia não fazer ação alguma, pois o útero já estaria fatigado devido o excesso de trabalho anterior, sendo assim, tenderia a não contrair colaborando também para um quadro de hemorragia.
 
Por isso, saliento sempre a necessidade de um atendimento humanizado e consciente para que as parturientes não tenham que passar por tantas manobras e condutas desnecessárias!!
 
Sendo assim Dé, nos casos que me apresentou, eu compreendo que pode ter havido um exagero por parte do profissional de saúde, que pode ter colaborado para o rompimento do cordão, e esse desconforto na manobra da dequitação. E no caso do programa da Discovery channel, pedimos até uma atenção maior, pois embora os nascimentos sejam vaginais, o uso de procedimentos são enormes, sendo assim, a anestesia peridural pode ter seu efeito diminuído, até mesmo pelo tempo transcorrido entre a aplicação e o parto,  por conta disso a mulher pode ter sentido alguma manobra ou contração para expulsão dessa placenta. Mas, quase sempre, dependemos, assim como para a via de parto, de um profissional humanizado, consciente e em alerta para que frente à qualquer distúrbio possa intervir da maneira correta a fim de salvaguardar a parturiente.
 
Deixo dois vídeos:
 
O primeiro fala sobre as faces placentárias e a revisão que o profissional faz para verificar se está tudo certo. Nessa avaliação podemos verificar a existência de infartos placentários, regiões com tecido gorduroso e calcificações (que são tão utilizadas, em alguns casos, por alguns médicos que adoram realizar cesáreas). O vídeo está em inglês:
 
 
O segundo vídeo mostra algumas manobras realizadas para a dequitação placentária, mas notem que a parturiente estimula o mamilo com o intuito de liberar mais ocitocina! O cenário não é bonito (não gosto de filmes que focam apenas na genitália feminina, mas para entender a dequitação mais de perto, é interessante), além disso, não é nem um pouco humanizado, mas foi o que encontrei para demonstrar:
 
 
 
Deixo um artigo da Febrasgo:
 
Mas, no fundo, gostaria que todas as mulheres pudessem guardar uma gravura de suas placentas:
 
Deborah, e demais seguidoras, espero ter esclarecido um pouco mais sobre a placenta e sua dequitação!
 
Como o assunto é denso, em caso de dúvidas, escrevam nos comentários ou através do e-mail: consultoriasermae@gmail.com
Lembre-se a sua dúvida pode ser a de outras mulheres, então, ao ser esclarecida colabora para que outras pessoas aprendam!!!
 
Beijos,
Nayara.

5 comentários:

  1. Olá Nayara, pode me indicar mais textos sobre as pesquisas que dizem que "Algumas pesquisas alegam que o uso irrestrito de ocitocina poderia colaborar com um fator inverso, ao invés de auxiliar para o desprendimento placentário, poderia não fazer ação alguma, pois o útero já estaria fatigado devido o excesso de trabalho anterior, sendo assim, tenderia a não contrair colaborando também para um quadro de hemorragia." ? Fiquei curiosa, pois tive hemorragia pós parto e poucas explicações dos profissionais sobre os prováveis motivos. Obrigada.

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    1. Olá Janice, me desculpe pela ausência, mas como obstetriz tive muito trabalho e não consegui atualizar mais o blog. No momento estou lhe enviando uma dissertação de mestrado que desde 2002 já dizia sobre os malefícios do uso irrestrito de ocitocina: https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/83519 , encaminho uma revisão feita por Melania et al.: http://files.bvs.br/upload/S/0100-7254/2010/v38n10/a1709.pdf e buscarei outros! Por favor, entre em contato por e-mail (consultoriasermae@gmail.com) e relate mais sobre seu parto, posso te ajudar a entender se as condutas foram bem empregadas ou inapropriadas. Um beijo Janice, e espero seu contato!

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    2. Oi Nayara! Obrigada pela resposta, mandei o e-mail, bjs!

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  2. Tivemos uma perda esses dias, uma mulher de 19 anos faleceu devido a negligência médica, o obstetra, não sabemos.porque cargas dágua forçou a tiragem da placenta, a explicação é que o útero "virou", correram as pressas para a cirurgia, mas não resistiu! São tantas mortes por negligencia e nada é feito! A gravidez dela estava perfeita, parto super normal ate o " drzinho" resolver puxar a placenta... Indiginada estou!

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  3. Tive parto normal mais na hora a placenta não queria sair pois estava totalmente colada. Se eu engravidasse outra vez será que aconteceria a mesma coisa?

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